Começo uma série para estimular, testar e provocar novos textos. Usarei um site de sorteio de palavras aleatórias, serão duas palavras e com essas terei de escrever um mini conto, algo que tenha entre 1000 e 2000 caracteres. O tempo entre sorteio e publicação vai ser rápido, entre 5 a 8 dias. Mais ou menos como fazia no Monolito.
Para esse primeiro desafio as palavras sorteadas foram: Bengala e retorno.
Deixo o convite ou desafio a quem mais quiser participar, vamos ver o que acontece.
Crisântemos
O slogan da loja de produtos ortopédicos era: “Não vendemos curativos, proporcionamos uma vida melhor”, entre os funcionários a frase continuava como piada interna; fazemos isso vendendo produtos ortopédicos…
A cliente diante do caixa tinha um rosto familiar, ou era uma confusão de sua memória? Talvez lembrasse de ter feito a venda ou de tantas vendas e tantos clientes, aquela suspeita fosse apenas outra confusão. Numa sinalização dúbia de paz e guerra, a moça carregava uma bengala e a nota fiscal pendurada entre os dedos bem a mostra como um estandarte.
Era uma bengala dobrável com ajuste de altura, feita de alumínio, leve e resistente, uma das melhores opções do catálogo. Em silêncio a moça esticou a mão entregando a nota e o objeto. Não tinha nem sete dias da compra, verificou, segundo o código do consumidor poderia devolver e desistir da negociação por qualquer motivo.
Num misto de piedade e medo de entrar naquela história, a moça do caixa concluiu a transação com pressa, queria desaparecer com aquele contratempo e manter o pequeno mistério invisível até o fim do expediente. Acenou com um micro sorriso indicando que estava tudo certo, a cliente podia seguir seu caminho. O alivio vem junto da certeza que depois terá problema, conseguiu se esquivar de um contato maior com aquela estranha, não estava num bom momento para praticar empatia.
Minutos depois viu a moça que devolveu a bengala passando novamente na frente da loja. Percebeu que ela não tinha assinado o recibo da devolução, foi com o papel e o dinheiro ao encontro dela. Ao se aproximar reparou que ela carregava um arranjo de crisântemos, aquele novo objeto não seria devolvido mas depositado no cemitério próximo do outro lado da rua. Se entreolharam novamente e seguiram caminho distintos em silêncio. Retornou mais pesada para a loja, recibos, dinheiro que não era seu e o impacto com uma história triste…
No final do turno deu boa noite ao patrão e foi embora pra casa, daquele dia levava embora a bengala dobrável, papéis de recibo destacados, na loja nada mudara, nem no estoque nem no caixa, como um buraco negro a bolsa escondia, engolia todos os acontecimentos do dia.
Gaveta na nuvem 
Parabéns pelo desafio Ygor! Adorei o conto! E as palavras não eram fáceis… 😉
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